“O convite” – doação terapeutica

Li há um tempo atrás um texto enviado por uma cliente, ao meu email. Na época, ela dizia ter encontrado um texto que falava exatamente sobre sua identidade, um convite para a transformação de nossas vidas. Esse texto me tocou muito. Durante várias sessões trabalhamos em cima dele. Resolvi postá-lo aqui. Afinal, ele é muito Core Energetics.

“Não me interessa o que você faz para sobreviver. Eu quero saber pelo que você sofre, e se você ousa sonhar encontrar o desejo do seu coração.

Não me interessa a sua idade. Eu quero saber se você se arriscará a parecer um tolo por amor, por seus sonhos, pela aventura de estar vivo.

Não me interessa quais planetas estão em quadratura com a sua lua. Eu quero saber se você atingiu o centro do seu próprio sofrimento. E se você tem estado aberto para as traições da vida ou tem-se tornado retraído e fechado temendo sofrer mais!

Eu quero saber se você consegue se sentar com a minha ou sua própria dor, sem tentar escondê-la, encobri-la ou fixar-se a ela.

Eu quero saber se você pode alegrar-se com a sua ou a minha alegria; se você pode dançar selvagemente e deixar que o êxtase lhe preencha até as pontas dos dedos das mãos e dos pés, sem se prevenir quanto a ser cuidadoso, realista, ou se lembrar das limitações de ser humano.

Não me interessa se a história que você está me contando é verdadeira, eu quero saber se você pode desapontar alguém para ser verdadeiro consigo mesmo. Se você pode suportar a acusação de traição e não trair sua própria alma.

Eu quero saber se você pode ser sincero e, portanto digno de confiança.

Eu quero saber se você pode ver a beleza, mesmo quando o dia não está belo, e se você pode conectar sua vida através da presença de Deus.

Eu quero saber se você pode viver com o seu ou meu fracasso, e ainda permanecer à margem de um lago e gritar para a lua cheia prateada “Sim!”

Não me interessa saber onde você vive ou quanto dinheiro você tem.

Eu quero saber se você é capaz de acordar depois da noite de aflição e desespero, exausto e machucado até a alma e fazer aquilo que precisa ser feito.

Não me interessa o que você é como você veio parar aqui. Eu quero saber se você permanecerá no centro do fogo comigo sem recuar.

Não me interessa onde ou com quem você estudou.

Eu quero saber o que lhe sustenta interiormente, quando tudo o mais desaba.

Eu quero saber se você é capaz de ficar só consigo mesmo, e se você realmente é boa companhia para si mesmo nos momentos vazios. ”

The Invitation (Oriah Sonhadora da Montanha)

tradução (MLQ)

Amamos com nosso coração e questionamos, duvidamos e controlamos com nosso ego

Há uma parte do livro ALEGRIA do Lowen, que fala sobre nossa disponibilidade em nos entregar para o amor. Resolvi publicá-la aqui, pois tenho ouvido e compartilhado muitas questões sobre os relacionamentos atuais.

“Nosso coração pode dizer: ‘Entregue-se”, mas nosso ego diz: ‘Tome cuidado, não se deixe levar; você será abandonado e ferido’. O coração como órgão do amor é também o órgão da satisfação. O ego é o órgão da sobrevivência, a qual é uma função legítima, mas quando o ego e nossa sobrevivência dominam nosso comportamento, a entrega verdadeira torna-se impossível. Ansiamos pelo contato que faria nossos espíritos voarem nas alturas, nossos corações baterem mais rápido e nossos pés saírem dançando, mas esse anseio não é realizado porque nossos espíritos estão anulados, nossos corações estão trancados e nossos pés sem vida. ”

O amor suaviza a pessoa mas ser suave é ser vulnerável – e isso assuta o ego.

“Para a maioria das pessoas, a questão não é se amam ou não amam, mas se podem amar com todo o seu ser. Seria demais esperar isso numa cultura como a nossa, que considera a entrega ao corpo como um sinal de fraqueza. Uma entrega ao amor frustra-as, mas, em vez de reconhecer a causa de seu fracasso, culpam seu parceiro amoroso. É verdade que o compromisso do parceiro era igualmente frio – do que ele igualmente culpará o outro. (…) Um relacionamento só floresce quando ambas as pessoas trazem um sentimento de alegria a ele. Tentar encontrar alegria através de uma outra pessoa nunca funciona.”

O amor é uma partilha e não uma doação. E a alegria que se compartilha decorre da nossa entrega ao corpo, não da entrega ao outro. Afinal a alegria que a gente sente, sentimos no nosso corpo de uma forma difícil de explicar. De repente somos transbordamos por algo em nós, só isso.

Corporeidade – unidade expressiva da existência

Estou escrevendo menos no Blog, mas produzindo mais offline. Lendo, re-lendo e rascunhando trabalhos imediatos e futuros para a universidade. Compartilho um trecho de uma dissertação de mestrado da Faculdade de Ed. Física da UNICAMP. A autora é Giovanina Gomes Freitas e foi defendida em 1995.

Ah! O título desse post também é dela.

“O corpo do homem ocidental moderno, marcado pelas ideologias, é, à maneira do corpo dos anatomistas, esfacelado, desintegrado, com diferentes regiões que se articulam e cada uma delas sob o domínio de uma dada especialidade do conhecimento.  O exemplo da medicina é patente: o cadiologista, o gastroenterologista, o oftalmologista, o psiquiatra, nos falam de universos que parecem estar a milhões de anos de distância entre si e mais distantes ainda de nossa vivência concreta. Preocupamo-nos em “perder a barriga”, “aumentar o bíceps”, “diminuir o nariz”, como se as partes do nosso corpo estivessem fora de nós mesmos e com se as modificaçoes sofridas por uma delas não fossem, na verdade, modificações do todo e, portanto, com implicações de tal abrangência.

Porém, o homem é seu corpo e, quando age no mundo, age como uma unidade. Nesta ação não se separam o movimento do braço do piscar dos olhos, dos batimentos cardíacos, dos pensamentos, dos desejos, das angústias. Igualmente, nela não se vê apenas a atuação determinante e massificadora das ideologias – da mesma forma como o homem não pode ser reduzido às pulsões inconscientes, tampouco seu comportamento pode ser reduzido às determinações ideológicas. Na ação humana está a marca indelével do ser que interage. Este não é apenas um integrante de uma classe social, inseridos nas relações histórico-culturais de seu meio: ele é um indivíduo, um ser único e o único capaz de testemunhar sua própria experiência, mergulhado na complexa rede de inter-relações a partir da qual constrói sua vivência singular.

Feldenkrais: ditado chinês

Lendo o livro de Moshe Feldenkrais, o autor escreve sobre um ditado chinês que ele adorava contar:

Eu ouço e esqueço.

Eu vejo e me lembro.

Eu faço e compreendo.

No mais, encorajo-os a mexer o corpo e fazer os exercícios com suavidade e conforto. Como ele dizia: “Você perceberá que não existe especialmente uma maneira certa ou errrada de executar um movimento. É o próprio movimento a oportunidade de explorar e descobrir o que é correto para você mesmo. Seu guia deve ser seu conforto, prazer e satisfação.”

Descrição da primeira sessão terapeutica – Lowen e Reich

Parte do livro Alegria, de Lowen.

“Deitei-me na cama vestindo apenas um calção, para que Reich pudesse observar minha respiração. Ele estava sentado de frente para a cama. Sua simples instrução foi que eu respirasse, o que comecei a fazer como normalmente faria, enquanto ele estudava meu corpo. Depois de 10 a 15 minutos, ele observou: ‘Lowen, você não está respirando.’ Respondi que estava. ‘Mas’. Ele disse, ‘seu peito não está se movendo.’ Não estava. Ele me pediu que colocasse minha mão sobre seu peito para sentir o seu movimento. Senti o seu peito subir e descer e decidi mobilizar o meu peito com cada respiração. Fiz isso durante algum tempo, respirando pela minha boca, sentindo-me bastante relaxado. Então Reich pediu que eu arregalasse os olhos, e ao fazer isso emitir um grito alto e prolongado. Ouvi o meu grito, mas não tinha nenhum sentimento ligado a ele. Estava vindo de mim, mas eu não estava conectado a ele. Reich pediu para parar de gritar porque as janelas estavam abertas e davam para a rua. Retomei a respiração de antes como se nada tivesse acontecido. Fiquei surpreso com o grito, mas não emocionalmente abalado. A seguir, Reich pediu-me para repetir a ação de arregalar os olhos, e novamente eu gritei sem nenhuma ligação emocional com isso. (…) No decurso desse ano seguinte da terapia, ocorreram vários eventos importantes. Em um deles revivi uma experiência infantil que explicou os gritos de minha primeira sessão. (…) Vi o rosto de minha mãe. Ela estava olhando para mim com olhos muito irados. Senti que eu era um bebê de mais ou menos 9 meses, deitado num carrinho do lado de fora da porta da minha casa chorando por minha mãe. Ela devia estar às voltas com uma atividade importante, pois quando veio olhou-me com tanta raiva que congelei de terror. Os gritos que não pude emitir então explodiram de dentro de mim em minha primeira sessão de terapia, trinta e dois anos mais tarde.”

Enfrentando nossos lobos internos

“A raiva e o medo pertencem ao grupo de emoções de emergência; ambos ativam o sistema simpático supra-renal para que forneça energia extra para a luta ou a fuga. Nessas duas emoções o sistema muscular encontra-se carregado e mobilizado para agir. Se o sentimento é de raiva, o organismo ataca a fonte de dor. Quando é de medo, vira-se e foge do perigo. Essas duas direções opostas de movimento refletem o que acontece no corpo. O movimento ascendente, ao longo das costas, que levanta o pêlo do cachorro, junto com o movimento da cabeça para frente e o abaixar dos ombros são uma preparação para o ataque. O movimento descendente, ao longo das costas, resulta num encolhimento da cauda e no posicionamento das pernas para fugir.” (Lowen, Alexander. Prazer – Uma abordagem criativa da vida).

Esse vídeo me foi enviado por um amigo, também terapeuta, há um tempo. É uma propaganda espanhola que nos elucida o movimento de fuga e recolhimento do medo; e o movimento à luta que utiliza, como fundo, a emoção da raiva de forma assertiva.

Observe as expressões da moça nas situações de medo, ela fecha os olhos, os pés recuam, a boca fecha e suspende a respiração, os braços e mãos são recolhidos para atrás das costas.

Observe as expressões da moça nas situações em que ela atravessa a linha do medo, ela abre os olhos e a boca, puxa o ar para os pulmões, posiciona os braços à frente e corre.

É linda a criança espontânea e livre que avança ao mar. Que prazer! Também o movimento determinado, mostrado pelo queixo e cabeça, no ir de encontro ao beijo.

É lindo quando o nosso medo nos grita internamente na ameaça da imagem do lobo e nos atrevemos a quebrar nosso “ritual” de tensão corporal e vemos o medo se dissolver e evaporar no ar.

“A raiva é um veneno que a gente toma esperando que o outro morra.”

Esses dias, minha mãe me contou sobre uma frase que ela tinha ouvido ou lido em algum lugar:

“A raiva é um veneno que a gente toma esperando que o outro morra.”

Gostei muito dela. Ela me foi muito explicativa, sobre esse sentimento tão comungado no nosso dia a dia. Muitos clientes me perguntam sobre a expressão da raiva nas sessões terapêuticas. E muitas vezes, duvidam se ela é legítima.

Para isso, resolvi retomar um trecho de John Pierrakos, quando ele escreve sobre a repressão dos sentimentos.

“As instituições humanas tendem a atacar a emoção positiva que vem da Essência porque percebem esse movimento como contrário a seus interesses. Pela mesma razão, e com maior veemência, resistem contra as emoções expressas nos chamados sentimentos negativos – raiva, ódio, impulso de destruição. Digo ‘chamados’ porque ‘negativo’ implicaria o fato desses sentimentos serem vazios de vida ou antagônicos a ela. Isso não é verdade, pois são o segundo nível de nossa realidade interior, e realidade não pode ser antivida.

Essa família de sentimentos constitui expressões de vida, como parte de sua dualidade, e não escapes repreensíveis. Canalizam uma enorme quantidade de movimento. Se os fechamos, brecamos nossos processos criativos, brecamos nosso crescimento. Nossa energia se acumula e nossa pessoa se estagna, como um carro parado na estrada faz com que todos os outros também parem. As emoções negativas não estão ‘erradas’ em si mesmas; são funções preciosas da pessoa, quando são aceitas. A raiva, por exemplo, é a reação que ocorre quando a Essência é comprimida, pela humilhação ou pela escravidão. É uma coisa bonita ver a raiva irromper livremente em defesa do indivíduo, contra a opressão.”

Como sua experiência de vida está escrita no seu corpo, e diz sobre a emoção vivida?

Terminei o livro de Stanley Keleman, Realidade Somática – Experiência Corporal e Verdade Emocional. Gostei muito. Um livro simples que dá nomes e esclarece muitas situações do nosso comportamento psico-corpo-social-emocional.

Escolho esta parte para compartilhar:

“O que é crucial, e que geralmente é esquecido pela própria natureza do processo de estereotipia, é que toda pessoa ao crescer criou, praticou e aperfeiçoou padrões de expressão e comportamento social. Ouvimos: Não seja carente, não fique triste, não seja impaciente, aprenda a se controlar. Mas para colocar em prática o que outros consideram comportamentos ideais, talvez tenhamos de inibir os movimentos peristálticos intestinais, interferir no ritmo cardíaco e dos vasos sanguíneos ou contrair a musculatura esquelética. Essas ações impedem a concretização de impulsos como exteriorizar-se, correr ou fazer ruídos.

Por exemplo: quando uma criança se prepara para chorar, ela primeiro prende a respiração, interrompe um padrão respiratório específico, contorce o rosto, crispa a boca, abre-a e chora. No caso de um adulto, antes que o choro tenha início, pode-se observar como uma tristeza se concentra e aprofunda.

Em minha opinião é de grande importância reconhecer esses padrões. Suponha que perguntássemos a uma pessoa que está enraivecida: Como você fica enraivecida? Ela diz: Fico enraivecida gritando. Perguntamos então: Como você grita? E ela responde: Ergo o peito e aperto a garganta. Podemos então perguntar: Como você sabe disso? Ela: Bem, eu me lembro que fazia isso quando era criança e, portanto, continuo fazendo. Faz parte da sensação de conhecer a mim mesma. Então, você ainda pode perguntar: Você sabe como desenvolveu esse peito levantado? E ela diz: Eu me lembro que quando criança meu pai gritava comigo. Eu gelava e meus ombros levantavam. Agora percebo o padrão interno que ergue meu corpo para gritar.”

Gostei desse trecho que me faz perguntar mais, para mim, e para as pessoas em meu consultório: Qual é o padrão da minha (sua) raiva?

BOA OBSERVAÇÃO!!!!